Arquivo de 5 março, 2015

Capítulo 1: Modelos tradicionais de concorrência

1.1 Introdução

Os modelos de competição perfeita e monopólio foram os modelos básicos de concorrência que predominaram na teoria neoclássica até sua contestação, a partir do artigo de Piero Sraffa em 1926, que também abriu caminho para as contribuições de Joan Robinson e Edward Chamberlin, individualmente, em 1933 com a apresentação de modelos de competição imperfeita;

Definição dos termos utilizados:

Concentração da produção -> Empresa possui poder de mercado, influencia no preço;

Atomização -> Ausência de poder de mercado, empresa tomadora de preços;

1.2 O Modelo de Competição Perfeita

1.2.1 As hipóteses

Não existe coordenação entre empresas;

Empresas tomam decisões de forma descentralizada;

Empresas estão sujeitas à disciplina do mercado – são tomadoras de preço;

Indústria: grupo de empresas que proporciona um produto ou serviço homogêneo, cujas características são idênticas qualquer que seja o vendedor;

Resumo das hipóteses básicas do modelo:

H1: grande número de empresas;

H2: produto homogêneo;

H3: livre entrada e saída de empresas;

H4: maximização de lucros;

H5: livre circulação de informação;

H6: perfeita mobilidade dos fatores;

*Qualquer alteração em alguma das hipóteses leva a um desequilíbrio entre a oferta e a demanda, cuja correção acontece naturalmente pelas próprias forças de mercado;

(H1 e H2) Considerando grande número de empresas atuando e a não diferenciação do produto comercializado, podem existir no mercado firmas de qualquer tamanho, tanto grandes como pequenas, porque são tantas que fica impossibilitado que alguma delas tenha poder de mercado. Assim, individualmente oferecem uma pequena parte do total do produto que circula no mercado.

Essas mesmas considerações valem para os compradores, pois nenhum deles tem poder de compra para exercer, ou seja, não há poder monopsônico;

A curva de demanda da empresa individual é infinitamente elástica, ou seja, cada firma pode vender qualquer quantidade de produto ao preço de mercado, o que dependerá apenas da sua capacidade produtiva (tamanho da planta). Essa curva também representa tanto sua receita média como marginal, já que ambas são iguais ao preço no modelo;

                RT = P*Y

                RMe = P*Y/Y = P

                RMg = dRT/dY = P

#Gráfico 1.1 – Curva de demanda da empresa individual

(H3) A não existência de barreiras implica a possibilidade de atomização do mercado. Do contrário, haveria menor número de empresas e tendência à concentração da produção;

(H4) O objetivo das empresas é maximizar o lucro, este último entendido como a remuneração do capital acima da taxa normal de mercado, taxa esta que é dada pelo custo de oportunidade do investimento na indústria e a remuneração pelo risco enfrentado pelo empresário;

O lucro é definido como a diferença entre Receita Total (RT) e Custo Total (CT). Quando RT = CT o lucro obtido é normal, já que a taxa normal de retorno no mercado já está inserida nos custos empresariais. Lucros acima do normal são considerados extraordinários, e atraem novas empresas ao setor até que essa taxa extra desapareça (RT = CT);

(H5) Com informação livre tem-se não apenas o amplo conhecimento do mercado, tais como custos gerais e de oportunidades, quantidades e preços, mas também das condições futuras, excluindo-se a possibilidade de incerteza quanto ao comportamento futuro dos agentes e, consequentemente, do mercado;

(H6) A hipótese da liberdade na mobilidade dos fatores de produção implica que não existem custos de aprendizados para os trabalhadores, e, portanto, que suas habilidades são facilmente encontradas. Da mesma maneira, nenhuma empresa controla ou exerce influência sobre as matérias primas e demais fatores de produção, tal como a força de trabalho, que não é sindicalizada (controle de salários). Desta forma, todos os fatores também são comercializados em concorrência perfeita (modelo de equilíbrio geral – Walras);

1.2.2 Equilíbrio

Para que haja equilíbrio no mercado é necessário que as firmas estejam operando em equilíbrio interno, ou seja, que estejam produzindo as respectivas quantidades que maximizam seus lucros individuais. O equilíbrio de mercado é determinado com a interação das curvas de oferta e demanda do mercado, sendo cada uma delas a soma das suas curvas individuais;

A empresa irá tomar os preços de mercado porque não poderá vender acima deste, pois seus concorrentes teriam preços menores. Da mesma maneira, não venderá num preço menor porque a quantidade produzida sendo a mesma não permitiria a maximização do lucro;

O Curto Prazo

Definição de termos:

Custo total (CT) é todo o custo da produção, considerando tanto os custos fixos (CF) (que independem da produção) como os custos variáveis (CV) (que variam com a quantidade produzida). O custo médio (CMe) reflete o custo por unidade de produção, o custo variável médio (CVMe) avalia o custo variável por unidade de produção, enquanto o custo fixo médio (CFMe) apresenta os custos fixos por cada unidade produzida;

A diferenciação entre custos fixos e variáveis decorre da escolha do período de análise na produção. No curto prazo (CP) pelo menos um fator de produção é fixo, enquanto no longo prazo (LP) todos os fatores, e portanto seus custos, variam;

Considerando uma análise de curto prazo, a existência de rigidez na quantidade de um dos fatores de produção implica no efeito da “lei das proporções variáveis”, ou seja, que variações positivas na quantidade dos demais fatores implicará num ponto de produção além do qual haverá retornos decrescentes para o produto, e, portanto, que haverá um custo médio mínimo;

Maximização e equilíbrio no curto prazo:

Função de produção: Y= f(X1, X2)

X1: fator de produção 1, considerado variável

X2: fator de produção 2, considerado fixo

W1: preço do fator 1

W2: preço do fator 2

Y: quantidade produzida

P: preço de mercado

Assim,

Receita Total (RT) = P*Y

Receita Média (RMe) = RT/Y

Receita Marginal (RMg) = dRT/dY

Custo Fixo (CF) = X2*W2

Custo Fixo Médio (CFMe) = CF/Y = X2*W2/Y

Custo Variável (CV) = X1*W1

Custo Variável Médio (CVMe) = CV/Y = X1*W1/Y

Custo Total (CT) = CF + CV = X1*W1 + X2*W2

Custo Médio (CMe) = CT/Y = (CF+CV)/Y = (X1*W1 +X2*W2)/Y

Custo Marginal (CMg) = dCT/dY

Lucro (π) = RT – CT = P*Y – (X1*W1 + X2*W2)

Condição de primeira ordem, onde a firma alcança a posição de equilíbrio:

RMg = CMg

RMg = dRT/dY

RMg = dP*dY/dY = P

*A RMg é igual ao preço porque este é constante, já que é dado fora da empresa, no mercado, independendo da quantidade produzida pela firma individual. Matematicamente, não tem derivação parcial com relação à produção;

Portanto, na condição de primeira ordem P = CMg;

O equilíbrio é alcançado com quando a RMg iguala o CMg, porém pode existir mais de um ponto de equilíbrio na função lucro. Para que haja a maximização deste último o RMg deve igualar o CMg em sua fase crescente, o que implica a condição de segunda ordem a seguir;

Condição de segunda ordem, para que a firma maximize o lucro:

d²RT/dY² < d²CT/dY²

Logo,

d²CT/dY² > 0

*Ponto de máximo x ponto de mínimo;

#Gráfico 1.2 – Diferentes curvas de receita marginal igualam o custo marginal

O gráfico 1.2 apresenta quatro possibilidades para a receita marginal. Em RMg1, RMg2 e RMg3 ocorrem em competição perfeita, já que a produção individual tem receitas constantes, enquanto RMg4 e RMg5 ocorrem em modelos de competição onde cada empresa influencia na própria receita quando varia sua produção. Em RMg1 não há produção, porque o retorno é menor que os custos. Em RMg2 a produção ocorre quando no ponto onde RMg = CMg no trecho crescente dos custos, enquanto em RMg3 só há um ponto onde há igualdade com CMg. Para RMg4 vale o mesmo que RMg2, enquanto para RMg5 vale o mesmo que para RMg3.

O CMg mede a taxa de variação dos custos dada a variação de uma unidade na produção. Sua relação com o CMe (também válido para o CVMe) dependerá da trajetória deste último. Quando CMe (CVMe) for decrescente, o CMg deverá estar abaixo dele, enquanto deverá ser maior caso o CMe (CVMe) seja crescente. A relação é que numa trajetória decrescente dos custos médios uma nova unidade deverá ter um custo marginal menor do que o observado até o momento, caso o CMe (CVMe) não tenha atingido seu ponto mínimo. No inverso, para uma trajetória crescente dos custos médios, uma nova unidade terá um custo marginal maior do que a média prevalecente até então. Assim, o menor nível do CMe (CVMe) ocorre quando ele se iguala ao CMg;

#Gráfico 1.3 – Curvas de custos no curto prazo

A curva de oferta de curto prazo corresponde à produção com um fator fixo, portanto equivale ao ramo crescente do CMg, iniciando-se no ponto mínimo do custo variável médio (CVMe). Na posição de equilíbrio as empresas podem ter lucros extraordinários, apenas os normais ou prejuízo, mas não deixarão de produzir enquanto o preço for superior ao CVMe mínimo, ponto onde inicia a curva de oferta da firma;

*Lembrando que o lucro é maximizado pela firma quando CMg = RMg, e, portanto CMg = P. Assim, a oferta da firma inicia-se quando P = CMg = CVMe mínimo;

O Longo Prazo

Nenhum fator de produção é fixo, todos variam porque as empresas podem atender ao seu planejamento de mudar (ou não) suas escalas de produção para atingir o menor custo médio (CMe), que será igual ao preço de mercado no equilíbrio. Portanto, no longo prazo o lucro extraordinário (π) é zero, só ocorrendo lucros normais. Esse ajuste da produção decorre da entrada e saída de empresa no mercado quando da existência de lucros extraordinários ou prejuízos, porque as firmas ao entrarem no segmento disputam não só os consumidores, mas também os insumos necessários à produção, alterando assim os custos médios de todas as empresas e os preços de mercado;

As empresas abandonam a indústria quando estiverem operando com prejuízos no longo prazo, ou seja, quando seus custos médios mínimos forem maiores do que os preços obtidos no mercado. Assim, o mínimo aceitável pelas empresas é que seus custos médios mínimos sejam iguais aos preços de mercado, retornando apenas os lucros normais, e em razão do processo competitivo será essa a situação que prevalecerá no longo prazo;

No longo prazo pode-se atingir a escala ótima de produção, porque sua diferença com relação ao curto prazo é justamente o tempo e o processo de ajuste disponível às firmas realizarem em direção ao equilíbrio de mercado. A escolha ótima de produção ocorre quando o custo marginal de longo prazo se iguala ao de curto prazo, já que no planejamento de longo prazo as empresas ajustam os fatores de produção para sua utilização ótima. Assim, as curvas de oferta de curto e longo prazo das empresas acabam se igualando;

#Gráfico 1.4 – Curvas de custos no longo prazo

A curva de oferta de longo prazo corresponde ao ramo crescente do CMg, iniciando-se quando este se iguala a curva de CMeLP, que é a partir de onde compensa às empresas iniciarem sua produção, ou seja, a partir de onde se tem ao menos os lucros normais;

*Diferente do curto prazo, onde a curva inicia-se no ponto onde CMg = CVMe, porque no longo prazo não existem custos variáveis;

No longo prazo a definição de receitas e custos se dá da mesma maneira que no curto prazo, porém observa-se que agora não existem fatores fixos na função de produção. Já para a determinação de equilíbrio e maximização dos lucros os processos diferem do curto prazo, vale observar que está excluída a possibilidade de lucros extraordinários, portanto só ocorrerão os lucros normais, implicando que a receita individual da firma seja igual ao seu custo de produção;

*No curto prazo, como pode haver algum lucro excedente, a receita média pode divergir da receita marginal, assim como o custo médio em relação ao custo marginal. Essas possibilidades estão excluídas no longo prazo;

Condição de primeira ordem, para firma alcançar a posição de equilíbrio no longo prazo:

RMg = RMe = P = CMg = CMe mínimo

*Dada a possibilidade de ajusto na produção no Longo Prazo, as empresas sempre tenderão a produzir no menor custo possível, o CMe mínimo;

Condição de segunda ordem, para que a firma maximize o lucro:

d²RT/dY² < d²CT/dY²

Como o longo prazo permite um processo de ajustes e mudanças também dos preços, a curva de oferta da empresa será mais elástica do que a observada no curto prazo, quando as empresas tem ao menos um fator que não pode variar na produção, implicando que no curto prazo há maior rigidez da curva de oferta, e no longo prazo maior flexibilidade;

1.2. A alocação ótima dos recursos

A competição perfeita conduz à alocação ótima dos recursos escassos no longo prazo, satisfazendo as seguintes condições:

1: A produção ocorre ao nível do custo médio mínimo;

2: O preço de mercado é o mínimo, igualando CMe mínimo e CMg, ou seja, o preço pago pelo consumidor é igual ao custo de oportunidade enfrentado pelo produtor;

3: Plantas funcionando a pleno emprego dos recursos;

4: Não há lucros extraordinários, prevalecem apenas os normais;

Se considerada a simplificação de uma economia que produz apenas dois bens, limitada pela “fronteira de possibilidades de produção”, pode-se considerar esta equivalente à restrição orçamentária individual. Assim, também é possível imaginar uma curva de indiferença da sociedade equivalente à soma das curvas de indiferença individuais. O resultado dessas curvas seria um ponto de maximização da utilidade dos insumos e, portanto, o ponto de alocação ótima dos recursos, gerando o maior grau de bem-estar possível na economia. Isso ocorre desde que:

1: Não haja interferência externa sobre a demanda que impeça o pleno funcionamento do sistema de preços e sua respectiva representatividade quanto as vontades dos consumidores;

2: Não existência de economias de escala, e, consequentemente, incentivos às mudanças na produção;

3: Recursos e tecnologias dados e constantes;

#Gráfico 1.5 – Fronteira de possibilidades de produção e a curva de indiferença da sociedade

1.2.4 O excedente do consumidor e do produtor

O excedente do consumidor representa o benefício advindo da aquisição de determinada quantidade de um bem em detrimento de outros bens. Em geral interessa sua variação em relação às flutuações dos preços de determinado produto;

Supondo o aumento do preço de um bem numa curva de demanda, implica que os consumidores pagarão mais caro por unidade consumida do bem (para uma mesma quantidade y, agora paga-se a mais o equivalente a (p2-p1)*y);

#Gráfico 1.6 – Excedente do consumidor

A área R (retangular) mede a perda do consumidor ocasionada pelo aumento dos preços do bem (quantidade*variação do preço). A área T mede o valor perdido pelo menor consumo do bem. Assim, R mede a perda pelo maior gasto com o consumo do bem, enquanto T mede a perda pela redução do consumo. O excedente do consumidor é representado por toda a área abaixo da curva de demanda;

*Não interessa necessariamente o valor numérico exato, mas a noção das variações de perda tanto pelo aumento dos preços como pela redução das quantidades;

Já para o produtor vale o inverso. A área acima, ou à esquerda, da curva de oferta representa o excedente do produtor, que está intrinsecamente ligado aos retornos da empresa. O excedente do produtor que se realiza quando do aumento dos preços é igual ao lucro advindo de um aumento na produção (y1 para y2);

#Gráfico 1.7 – Excedente do produtor

*Assim como para o consumidor, aqui não interessam os valores exatos assumidos pelas variáveis, mas sim os conceitos;

1.3 Monopólio

1.3.1 As causas do monopólio

Monopólio é a denominação da existência de uma única firma num setor. Diversas são suas causas, entre políticas, econômicas, técnicas e outras. Em geral, destacam-se na teoria neoclássica:

1: Propriedade exclusiva dos insumos ou técnicas de produção

2: Patentes sobre produtos ou processos produtivos;

3: Interferência governamental, seja na concessão de exclusividade da produção/distribuição ou na imposição de barreiras à competição estrangeira;

4: Monopólio natural, quando a eficiência exige apenas uma empresa que aproveite as economias de escala;

Resumo das hipóteses básicas do modelo:

H1: apenas um produtor no mercado;

H2: ausência de substitutos próximos ao produto;

H3: barreiras totais à entrada;

H4: maximização dos lucros pela firma;

1.3.2O equilíbrio no monopólio

A existência de um único produtor impõe que a curva de demanda enfrentada individualmente pela firma seja equivalente a curva de demanda de mercado, elástica ao preço. Também implica que o monopolista possa operar com lucros extraordinários, impondo uma margem de lucro sobre os custos, mark-up;

Fórmula de determinação dos preços de um monopolista:

P = CMg/(1-1/|εd|)

P: preço de mercado

εd: elasticidade-preço da demanda

Essa fórmula é resultado da condição de maximização dos lucros:

RT = P*Y

RMg = dRT/dY = P(dY/dY) + Y(dP/dY)

*Agora o preço depende da quantidade produzida pela firma, diferente do modelo de competição perfeita, já que agora ela é única no mercado;

RMg = P+Y(dP/dY)

*Multiplicando o segundo termo por (P/P) (necessário para extrair o termo elasticidade);

RMg = P+Y(dP/dY)*(P/P)

RMg = P + (Y*dP*P/P*dY)

*εd = (P/Y)*(dY/dP), logo: (Y/P)*(dP/dY) = 1/εd

RMg = P + (P/εd)

RMg = P(1+1/εd)

RMg = P(1-1/|εd|)

No equilíbrio, tem-se:

RMg = CMg

P(1-1/|εd|) = CMg

P = CMg/(1-1/|εd|)

Em razão da existência de lucro extraordinário a ser capturado pelo monopolista, este só irá operar na parte elástica da curva de demanda, quando P > CMg. A diferença entre estes dois últimos é o mark-up por unidade. A condição de segunda ordem para maximização do lucro é como na competição perfeita:

d²RT/dY²<d²CT/dY²

*Também só opera na parte crescente dos custos);

#Gráfico 1.8 – Curva linear de demanda de um monopolista

A produção que maximiza o lucro ocorre como no mercado competitivo, quando RMg = CMg. Mas como o monopolista tem total poder de mercado, o preço difere da receita marginal, diferenciando o modelo de monopólio do modelo de competição perfeita;

Dada existência de barreiras à entrada no mercado, a planta de produção e sua capacidade utilizada dependerão exclusivamente da demanda. O grau de utilização dependerá das decisões empresariais, porque não tem nada que implique a produção no ponto ótimo, acima ou abaixo deste;

O preço do monopolista será sempre maior que o prevalecente num modelo de concorrência, assim como a quantidade produzida será menor;

1.3.3 A ineficiência do monopólio

Num modelo de concorrência perfeita a maximização do lucro é dada por:

P = RMg = CMg

No monopólio ela é dada por:

RMg = CMg

Como existe uma diferença entre preço e receita marginal na ausência de concorrência, o consumidor estará sempre com seu bem-estar diminuído em relação ao que prevaleceria num modelo concorrencial;

A eficiência no mercado é alcançada quando o consumidor paga ao produtor exatamente a quantia extra da produção da nova unidade, mas no monopólio a unidade adicional produzida implica na redução geral dos preços. Assim, a diferença entre o preço de monopólio e o preço de concorrência é considerada a ineficiência do monopólio;

Considerando produtores e consumidores como agentes simétricos, com o mesmo grau de importância no mercado:

Se o excedente do produtor é uma relação entre o que ele está disposto a pagar (custos) para ter maior retorno (receita) (=lucro);

Se o excedente do consumidor apresenta o quanto os compradores deveriam receber para compensar suas perdas dado um aumento nos preços;

Tem-se que a diferença entre os dois excedentes é o benefício líquido ou custo do monopólio;

#Gráfico 1.9 – O ônus do monopólio

O gráfico 1.9 apresenta os resultados da mudança de um mercado em monopólio para a competição perfeita.

A área A representa a redução do excedente do produtor em razão da diminuição do preço. Simetricamente, representa o ganho do excedente do consumidor, uma vez que compram a mesma quantidade com um preço menor;

A área C representa o ganho do produtor com o maior número de unidades vendidas pelo preço menor;

A área B representa mais excedente do consumidor, agora em razão das quantidades adicionais que são comercializadas;

Desta forma:

A área A representa a transferência de bem-estar do produtor na situação de monopólio para o consumidor na concorrência perfeita;

A área B+C indica o aumento no excedente total, ou seja, o valor atribuído tanto por produtores como consumidores à produção adicional que é comercializada em razão da diminuição dos preços;

A área B+C indica o ônus do monopólio, que surge quando o preço de mercado é dado pelo monopólio no lugar da concorrência perfeita, podendo ser definido como o valor perdido de cada unidade que seria produzida ao preço que as pessoas estariam dispostas a pagar num mercado concorrencial;

1.3.4 Discriminação de preços

O poder de mercado do monopolista permite a arbitragem de preços no mercado para diferentes demandantes, de forma a maximizar seu excedente e, consequentemente, sua receita total;

A hipótese subjacente nesta situação é que os custos de produção sejam iguais para ambos os produtos, ou seja, que mesmo características diferenciadoras entre produtos similares tenham os mesmos custos;

Condições necessárias para discriminação de preços:

1: Heterogeneidade da demanda, com diferentes elasticidades entre demandantes;

2: Possibilidade de distinção, pelo produtor, dos diferentes produtos oferecidos, conquanto eles sejam semelhantes, para evitar que um produto seja adquirido num submercado para ser comercializado no outro;

*Cada submercado funciona como um único mercado aos olhos do produtor, com suas respectivas curvas imaginadas de demanda, para relações distintas entre quantidade e preço;

Três formas de discriminação de preços:

1: Cada unidade do produto é vendida a um preço diferente das demais, extraindo o máximo que cada consumidor está disposto a gastar;

2: Diferentes unidades do produto são vendidas por preços diferentes, porém os preços são tabelados para o consumo das mesmas quantidades;

3: Diferentes grupos de compradores pagam diferentes preços para um mesmo produto;

1.4 Competição Monopolística

1.4.1 Antecedentes

Surge em razão da insatisfação com relação aos modelos então vigentes, concorrência perfeita e monopólio;

O modelo de competição monopolística buscou uma aproximação ao mundo real, com produtos não homogêneos mas similares, onde os produtores enfrentariam curvas de demanda negativamente inclinadas no curto prazo e horizontais no longo, sendo, portanto, uma mescla dos dois modelos anteriores, propondo livre entrada e saída de empresas e ao mesmo tempo que permitindo que cada empresa individual tenha poder de mercado, implicando em lucro positivo individualmente até que as empresas atraídas por esse lucro extra equilibrassem as receitas e custos, tornando a competição próxima à perfeita;

A característica fundamental da competição monopolística é a existência de características diferenciadoras dos produtos entre as empresas, que faz com que os demandantes estejam dispostos a pagar mais caros por eles. As características podem ser reais, dados os detalhes entre produtos, ou imaginados, como aqueles causados pelas estratégias de vendas dos produtores;

Neste modelo as empresas maximizam o lucro produzindo a quantidade que iguala a receita marginal ao custo marginal. Assim como no monopólio a receita das empresas dependem da quantidade que disponibilizam ao público, e a elasticidade da curva será dada pelo impacto da diferenciação do produto em relação aos demais na indústria, ou seja, quanto mais inclinada for mais poder de mercado terá a empresa, e maior será a diferença possível cobrada entre o preço e o custo marginal;

1.5 Conclusão

A competição perfeita implica ausência de rivalidade, ou seja, é o mercado após o processo competitivo ter se realizado;

A teoria neoclássica espera comportamentos maximizadores dos agentes, tanto consumidores quanto produtores, e portanto não presta muita atenção às diferentes estratégias individuais de cada agente;

A raiz das interpretações da economia neoclássica parte da aceitação do modelo de equilíbrio geral, onde o foco principal é a alocação eficiente dos recursos;

Uma das limitações do modelo neoclássico é aceitar as informações como dadas, de onde os empresários conhecem o conjunto de escolhas e seus resultados, permitindo sem esforço admitir a estratégia que maximize os lucros. Assim, o problema gira em torno de estabelecer o preço certo para este fim;

Nestes modelos, as situações que não se enquadram nas hipóteses levantadas implicam em falhas de mercado.

__________
Lucas Casonato”

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